Você já ouvir falar em “Delirium”? Já presenciou este quadro em algum familiar que esteja em tratamento oncológico ou em cuidados paliativos exclusivos? É bem provável que sim, porque o Delirium é uma condição clínica de alta prevalência em idosos, em pacientes oncológicos e/ou em indivíduos em cuidados paliativos (cerca de 25% a 75%).
O Delirium ocorre com frequência nesta população de risco por uma combinação de fatores, mas geralmente este quadro está associado:
Ao uso de algumas medicações;
A uma quebra do equilíbrio do organismo devido a um quadro orgânico, como infecções, hipoglicemia, dor, desidratação, privação de sono;
E até devido a mudanças no ambiente, imobilidade, contenção física e privação sensorial (visão ou audição comprometidas);
A apresentação do delirium pode assumir duas formas: hiperativa ou hipoativa.
- Na forma hiperativa, que é a mais diagnosticado, ocorrem agitação, hipervigilância e alucinações. O paciente encontra-se inquieto, com discurso incoerente e até agressividade física, o que leva os familiares ou a enfermagem a solicitar de imediato uma avaliação médica.
- Por outro lado, na forma hipoativa, o paciente parece confuso e sedado, com retardo no funcionamento motor, olhar fixo e apatia. O delirium hipoativo ocorre em até 85% dos pacientes idosos internados em unidades de terapia intensiva (UTI) e geralmente passa despercebido.
- Os pacientes podem ainda alternar as duas formas, caracterizando um delirium misto. Geralmente o paciente em delirium apresenta sonolência diurna e agitação noturna, causando prejuízos a seu ciclo saudável de sono
O início é geralmente agudo, variando de algumas horas até poucos dias e costuma ser um quadro transitório e reversível, caso sejam adotadas as medidas adequadas.
Apesar de ser bastante frequente, muitas pessoas ainda não conhecem ou não sabem identificar este quadro. A identificação dos sintomas e fatores de risco pode favorecer a minimização e prevenção do quadro, como através das medidas abaixo:
– Primeiramente é necessária uma revisão criteriosa da prescrição medicamentosa atual pela equipe médica, buscando identificar se existe algum fármaco que possa ser responsável pelo quadro agudo de desorientação.
– Quando possível, os fármacos potencialmente indutores de delirium devem ser suspensos ou trocados por outros que não apresentem esse risco.
– Ao mesmo tempo, o ambiente em que o paciente se encontra precisa ser analisado de forma crítica: existe algum fator que possa estar contribuindo para causar desconforto ou agitação? Muitas vezes, a mudança de pequenos detalhes do ambiente será suficiente para o sucesso no controle do delirium, como a presença constante de um familiar ou cuidador, o uso de relógios, calendários e crachás dos profissionais com nomes bem visíveis.
– Em caso de privação de sono, devem ser adotadas estratégias para redução de ruídos ambientais e de horários de medicação que não interrompam o descanso noturno do paciente.
– Ainda, a correção de déficits sensoriais é crucial para o tratamento do delirium. Portanto, portadores de déficit visual ou auditivo devem permanecer em uso de óculos ou de prótese auditiva para manter a orientação em relação ao ambiente, cuja iluminação também precisa ser adequada.
É importante pontuar que um quadro de DeliriUM não é a mesma coisa que um quadro de DeliriO, uma vez que que este último é um sintoma de algumas doenças mentais graves, como a esquizofrenia, em que ocorre uma alteração de compreensão da realidade.