Sabemos que a vivência do paciente oncológico é um processo singular, mas temos descrito alguns dos desafios que vivenciamos junto com os nossos pacientes ao longo da trajetória da doença, como por exemplo: o medo diante do processo de diagnóstico; o impacto com a confirmação do mesmo ,que é permeada por incertezas relacionadas ao futuro; a mudança de hábitos com o início do tratamento (afastamento do trabalho, cuidados com o convívio social devido à queda de imunidade); e adaptações aos afeitos colaterais do tratamento, como mudanças na funcionalidade do corpo e alterações na auto imagem.

Vamos imaginar que a trajetória da doença é como uma viagem longa, por terras desconhecidas e que hoje iremos refletir sobre o término dessa viagem, quando o paciente oncológico recebe a notícia de que está curado de sua doença, que agora seus retornos aos médicos serão cada vez mais espaçados, bem como a realizações de exames.

É muito gostoso retornar para  casa, certo? O nosso banheiro, a nossa cama, aquele ambiente familiar, a comida que estamos habituados. Sim!!! Vamos concordar que assim como a cura da doença, trata-se de um momento alegre e que envolve bem estar. Porém, para desfrutarmos da nossa casa, após tantos meses fora, provavelmente teremos que organiza-la, assim como habituar o nosso corpo com o retorno a rotina, ao trabalho ou as atividades diárias e até nos habituar com a convivência com os vizinhos. Assim, trata-se de um momento feliz, mas que envolve desafios.

O pior é que as vezes podemos nos “cobrar” de estarmos felizes, afinal queríamos tanto retornar, porém, sentimos um estranhamento, um medo e alguns questionamentos podem surgir, como:

“Será que vou dar conta?”, “será que ainda vou desempenhar bem minha atividade profissional?”, “como meus colegas irão me olhar?”, “o que vão perguntar? não quero falar sobre a viagem ainda”, “será que a doença vai voltar?”, “será que estou seguro e posso relaxar?”

Pois é, a ansiedade é um sintoma comum entre sobreviventes de câncer durante a transição do tratamento ativo para a sobrevivência ao câncer.

Alguns pacientes podem relatar níveis elevados de sofrimento, que pode se manifestar como angústia, medo da recorrência do câncer, ansiedade sobre os efeitos do tratamento e a capacidade de funcionar diante de efeitos colaterais duradouros, sensação de perda/alteração de identidade, sensação de insegurança, ansiedades financeiras, medo de investir no futuro, sensação de perda de propósito de vida, entre outras maneiras.

Outro ponto importante refere-se ao vínculo com os profissionais de saúde. Muitas vezes os pacientes estão habituados a conviver frequentemente com as consultas médicas, retornos nos ambulatórios, realizações de exame e questionamentos do tipo: ‘como posso viver sabendo que meu câncer pode voltar?’ ou “agora que o tratamento terminou, meu médico me abandonará?” também podem surgir.

Segundo os estudos realizados, esse sofrimento emocional pode impactar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, propiciar o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão, bem como impactar o envolvimento com a vida social, profissional e familiar.

Conversar com a equipe de saúde de referência sobre esses sentimentos é de extrema importância. O atendimento psicológico é indicado não somente ao longo do tratamento, mas também após o término, para cuidar das questões emocionais relacionadas a esse momento e favorecer a qualidade de vida do paciente. Lembrando que os familiares também poderão vivenciar sofrimento semelhante e também podem se beneficiar de acompanhamento psicológico.

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