Tenho câncer: quais são as minhas marcas?

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Quando falamos sobre estigma abordamos a problemática de categorizar e atribuir valores negativos às pessoas a partir de características ou sinais corporais, desconsiderando sua singularidade, valores e história.

Alguns tratamentos quimioterápicos, por exemplo, podem provocar alopécia (queda do cabelo), o que com frequência mobiliza preocupações que podem ser traduzidas de algumas formas, como: “será que vou ser aceito sem cabelo?”, “será que as pessoas vão me tratar de forma diferente somente por apresentar essa mudança no visual?”, “será que meus valores vão ser colocados em xeque por conta disso?”, “será que vão sentir pena de mim?”, “será que vão me considerar frágil?”. Esse tipo de preocupação é justificada pelo estigma.

O estigma restringe

Restringe quem estigmatiza, pois superficializa uma relação, um contato, não dá a chance de conhecer alguém novo ou algo novo em alguém, julga sem critério e erra feio. Alguém que olha para uma pessoa careca, um possível paciente oncológico, e sente piedade, curiosidade, angústia, medo, não importa o que seja, projeta aquilo que pertence ao seu mundo interno, ou seja, aquilo que faz parte dos seus pensamentos, das suas PRÓPRIAS aflições e conflitos. A pessoa careca é apenas uma pessoa, se ela tratar de câncer, é uma pessoa com câncer. E daí?

O estigma restringe todos.

Visto que se você se sente estigmatizado, também está sendo restringido. Muitas vezes inibido, aprisionado, envergonhado, impotente. Sabemos das coisas que podem passar pela sua cabeça, sabemos que essas coisas podem gerar sofrimento, contudo, aceitar o estigma é dizer sim para ele. Talvez você mesmo, antes de ter câncer, já tenha tido pensamentos ou falas semelhantes sobre pessoas com câncer, às quais hoje te incomodam. Não tem problema. As experiências mudam a gente e nossa forma de enxergar o mundo. Assim, se um dia você não gostou do que viu, não tema que as pessoas não gostem de te ver. O câncer pode deixar marcas corporais reversíveis ou não. Entretanto, ele também deixa outro tipo de marca, a emocional. Reposicione-se. Invista em si mesmo. Diga sim para si mesmo. Lembre-se: acima de qualquer ideia estigmatizante, você é singular, tem seus próprios valores e uma história exclusiva. Esse tipo de marca te fortalece e te mantém na luta pela vida ou por ser feliz.

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