O estigma do câncer e a importância de falar sobre isso

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Apesar de toda a evolução tecnológica, médica e dos avanços nas formas de tratamento, o câncer ainda imprime sua marca na cultura, representando até hoje um estigma.

O que é estigma?

Os gregos, que costumavam se basear em recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais era possível evidenciar alguma coisa ruim ou que fugisse do comum sobre o status moral de uma pessoa.

Essa ideia permaneceu ao longo do tempo e ainda hoje a sociedade estabelece formas de classificar as pessoas e os atributos considerados como comuns e naturais para os membros de uma determinada categoria. Então, quando um estranho nos é apresentado podem surgir evidências de que ele tem uma característica que o torna diferente e, a partir disso, deixamos de considerá-lo como alguém comum e total, reduzindo-o a uma pessoa diminuída ou com menos valor por ser portadora dessa característica.

Por que o câncer foi estigmatizado ao longo da história?

A crença na antiguidade era que o câncer resultava de um “desequilíbrio humoral”, um excesso de bile negra ou melancólica. Já no final do século XVII, com o conhecimento do sistema linfático, passou-se a atribuir o câncer a diversos distúrbios da linfa. Essa época foi marcada pelo medo e preconceito, pois os possíveis portadores da doença eram afastados da sociedade, acreditando-se que o “mal” pudesse ser contagioso e, por vezes, os pacientes não eram aceitos nem em hospitais.

Durante o século XX, mesmo com o avanço da ciência e evolução dos conceitos e estudos em microbiologia e mecanismos das infecções, o câncer permaneceu como uma doença temida e um “grande mal absoluto”, porque os que padeciam dele estavam sentenciados à morte devido à falta de possibilidade de tratamento eficaz. Como resultado social deste “mal”, a doença passava a ser ocultada por vergonha e temores, inclusive por medo da exclusão.

Hoje em dia ainda existem mitos e crenças de que o câncer é uma doença inevitavelmente fatal, contagiosa, e de que não existem maneiras de se prevenir ou tratamentos eficazes. Algumas pessoas ainda acreditam que mencionar a palavra “câncer” pode atrair a doença para si, se referindo à doença como “aquilo” ou “aquela doença”.

A importância de falar sobre o câncer

Esses mitos permanecem e se perpetuam na medida em que a temática do câncer é evitada no meio social por pessoas que não vivem esse contexto. Dessa forma, falar sobre o câncer é fundamental para que possamos cada vez mais diminuir o estigma em torno da doença e daqueles que a vivenciam, evitando o surgimento de sentimentos de culpa e vergonha pelo diagnóstico ou efeitos colaterais do tratamento.

A queda de cabelo ocasionada pela quimioterapia, por exemplo, pode levar o indivíduo a ser reconhecido na rua como paciente oncológico e perceber olhares de piedade das pessoas, o que reforça o estigma. Situações como essa contribuem para a exclusão na medida em que a pessoa pode evitar frequentar lugares, acabar se afastando de seus papéis sociais, do relacionamento com outras pessoas, às vezes abrindo mão de seus projetos ou, simplesmente, não se dispondo a levar o tratamento adiante por acreditar na impossibilidade de cura.
Essa exclusão pode contribuir para dificuldades de enfrentamento e problemas emocionais importantes.

A discussão desse tema, a troca de informações e experiências e a escuta aberta e livre de prejulgamentos, assim como o acolhimento em grupos sociais sobre todos os aspectos que envolvem um diagnóstico oncológico (causas, tratamentos, efeitos colaterais, medos, angústias, prognóstico, etc), são fatores essenciais para um melhor enfrentamento e saúde psíquica do indivíduo.

Fontes do artigo e mais informações

Barbosa e Francisco (2007). A subjetividade do câncer na cultura: implicações na clínica contemporânea. Rev. SBPH v.10 n.1 Rio de Janeiro.
Teixeira e Fonseca (2007). De doença desconhecida a problema de saúde pública: o INCA no controle do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde.
Lôbo, Santos, Dourado e de Lucia (2006). Crenças relacionadas ao processo de adoecimento e cura em mulheres mastectomizadas: um estudo psicanalítico. Psicol. hosp. (São Paulo) v.4 n. 1 São Paulo.
Goffman (1891). Estigma – notas sobre a manipulação da identidade deteriorada.

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