Mary Anne Schwalbe foi diagnosticada aos 73 anos com câncer de pâncreas, metastático para o fígado. Muito esclarecida, tinha ciência da gravidade de sua doença e da possibilidade de lhe restar pouco tempo de vida (como citado no livro, estatisticamente as pessoas falecem em média 6 meses após esse tipo de diagnóstico). Escolheu seguir em frente, aproveitando o que considerava importante em sua vida, especialmente a família e seu trabalho com estudantes e refugiados. O fez com coragem, da maneira que podia, apoiando-se em seus valores e espiritualidade. Convivendo com limitações físicas progressivas, escolhendo os cuidados que gostaria de receber, buscando concluir projetos e preparando seu legado.
Em “O Clube do Livro do Fim da Vida” sua história de vida e de como lidou com o câncer é contada, porém a partir da perspectiva de seu filho, Will, e da relação especial que ambos tinham com livros.
Ao acompanhar a mãe em sessões de quimioterapia, Will funda com ela um clube do livro, no qual leem diversos títulos que sugerem um ao outro. Os livros dão oportunidade para falarem sobre o viver e o morrer, sobre assuntos difíceis para eles, para encontrarem conforto e distração.
Por meio da visão de Will como familiar, das conversas dele com Mary Anne e do acompanhamento das consultas médicas e sessões de quimioterapia, somos apresentados com sinceridade e clareza a temas importantes que perpassam o diagnóstico e tratamento oncológico: dúvidas e descobertas sobre a doença; tratamento e efeitos colaterais; internações; medos e sentimentos advindos dessa situação; o que dizer ou não dizer a pessoa doente; esperança e a realidade da piora; fatores positivos e aprendizados; cuidados paliativos; comunicação de más notícias; entre outros.
O jeito de enfrentar o adoecimento até o derradeiro momento realizado por Mary Anne e sua família é único, assim como é para cada indivíduo, e proporciona reflexões importantes sobre o olhar para a vida, mesmo diante da morte.
“Ela deixava muito claro que ainda estava vivendo enquanto estava morrendo, e que o tempo que lhe restava, fosse o quanto fosse, não deveria ser transformado numa longa cerimônia fúnebre. E, no entanto, quantas outras chances eu teria de agradecer-lhe pelo que fizera por mim, me ensinara e me dera?”.
“A questão é essa, Will. Você não pode controlar as surras. Mas talvez possa ter algum controle sobre sua felicidade. Enquanto ainda conseguir, bem, então ele ainda tem alguma coisa pela qual vale a pena viver. E quando ele não consegue mais, sabe que fez tudo aquilo que pôde”. Na minha mente, substituí a palavra surras por câncer.
“O Clube do Livro do Fim da Vida” é um livro agradável, no qual Will revisita e compartilha como viveu e o que aprendeu com a experiência de adoecimento da mãe, celebrando a vida dela e o que se pode alcançar por meio da leitura. No final existe um apêndice com uma lista em ordem alfabética dos autores de todos os livros, peças, poemas e histórias que são citados.
“Todos temos muito mais para ler do que podemos ler, e muito mais para fazer do que podemos fazer. Mesmo assim, uma das coisas que aprendi com minha mãe é isto: Ler não é o oposto de fazer; é o oposto de morrer. Nunca serei capaz de ler os livros preferidos da minha mãe sem pensar nela – e quando os passo adiante e os recomendo, saberei que parte daquilo que a formava vai junto com eles; que parte da minha mãe continuará viva nesses leitores, leitores que talvez sejam inspirados a amar como ela amou e fazer sua própria versão do que ela fez no mundo” – Essa reflexão pode valer para outras questões além da leitura.