Texto da psicóloga Natalia Pavani para a Veja Saúde aborda a importância de despedidas simbólicas durante a crise de coronavírus e as particularidades do luto nessa fase.
“Após a Segunda Guerra Mundial, multiplicaram-se as pesquisas sobre o estresse pós-traumático e o luto. Pois é possível que a pandemia do novo coronavírus produza uma nova leva de estudos sobre esses temas, além de provocar uma grande mudança social, na medida em que o rompimento de vínculos humanos ganhou atenção.
[…]
Não dizemos adeus da mesma forma que antes. Não podemos oferecer o amparo presencialmente. Não temos mais o olho no olho que acolhe e diz que, independentemente do que acontecer, ficaremos ao seu lado. Como familiares, a sensação de impotência é devastadora.
Aos profissionais de saúde, cabe o desafio de viabilizar a manutenção da saúde mental e a dignidade dos pacientes e familiares ao criar estratégias para o contato remoto por meio de chamadas de vídeo ou áudio, cartas… A inovação e a humanização também são ferramentas do cuidar.
E as despedidas, por que são importantes? Perder alguém é lidar com a necessidade de se tornar uma nova pessoa por meio de uma imposição da vida. Corresponder a essa imposição pode ser um dos maiores desafios da existência de alguém.
A sensação de vazio descrita nos processos de luto, assim como a sintomatologia conhecida sobre o tema, ganha ainda mais intensidade no contexto de isolamento social e inviabilidade de despedidas. E despedir-se é uma etapa essencial para esse processo, na medida em que promove o contato com a realidade da perda e favorece a sua assimilação. Ao mesmo tempo, permite que o sofrimento e o desamparo diante da perda possam ser compartilhados e acolhidos entre aqueles que o sentem.
Os rituais fúnebres desempenham um papel importantíssimo nesse contexto, com todas as suas variabilidades sociais, históricas e culturais. Com as diretrizes mundiais para evitar a contaminação nesse momento — e entre os trabalhadores dos diferentes serviços funerários —, mais uma vez somos desafiados a nos reinventar. Podemos, por exemplo, garantir que os rituais de despedidas sejam mantidos por meios remotos de encontro e comunicação.
E o que esperar após essa fase? Cada pessoa vivenciará o luto de maneira singular, ora orientada para a retomada da vida, à ressignificação e aceitação da perda, às novas conexões e projetos; ora orientada para a perda em si, o contato com o sofrimento e expressão dessa dor. Essa oscilação é prevista e saudável.
O tempo de duração do luto é particular. Alguns podem demorar meses, outros anos. Mas considera-se que o primeiro ano seja o mais difícil, na medida em que o enlutado passará pelas principais datas pela primeira vez após o falecimento do ente querido. O que é importante: verificar que a pessoa tenha os sintomas (tristeza, revolta etc) abrandados ao longo do tempo, prevendo oscilações nesse processo. Também é esperado que o enlutado retome gradativamente o curso de sua vida, respeitando o tempo pessoal para isso.
Quando não há redução dos sintomas e uma retomada da vida, podemos estar diante de um luto complicado, sendo necessária uma avaliação específica de saúde mental, seja do psicólogo ou do médico psiquiatra”
Leia o texto completo em: https://saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/luto-em-tempos-de-pandemia-o-que-muda-ao-dizer-adeus/