Cobertura XV Congresso Brasileiro de Psico-oncologia On-line da SBPO – primeira parte

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2020 foi um ano de muitas mudanças. Devido à pandemia tivemos que lidar com a ruptura de planos, o distanciamento físico, a ameaça de um vírus desconhecido e uma doença que tem tirado muitas vidas. Adaptações foram (e continuam sendo) necessárias e falar do cuidado em saúde mental tornou-se mais importante do que nunca.

No contexto oncológico, os pacientes se viram mais vulneráveis e as pessoas de modo geral deixaram de fazer seus exames de rotina, o que tem causado preocupação sobre a estimativa de novos casos de câncer nos próximos anos…

Diante disso, o que cabe ao profissional da Psico-oncologia refletir, discutir e estudar para melhorar sua prática?

Essa foi uma questão trazida pelo Congresso da SBPO, que também precisou ser adaptado e foi realizado on-line. Embora o contexto virtual escancare o nosso distanciamento, mostra também o quanto a tecnologia pode nos aproximar, proporcionando acesso a quem não teria condição de estar presencialmente.

Apresentamos uma cobertura dos principais tópicos e pontos de discussão do congresso. Lembrando que a escrita é realizada com base no que foi apresentado pelos palestrantes, sendo os devidos créditos dados.

 

[Primeira parte]

Atenção oncológica no Brasil

 

  • O instituto Oncoguia é uma importante referência sobre câncer no Brasil. Fundada em 2009, é uma ONG que, por meio do seu portal http://www.oncoguia.org.br/, realiza um importante trabalho de fornecer informação de qualidade para os pacientes oncológicos e a população geral. Além do portal, a ONG possui projetos e ações de educação em saúde, apoio e orientação ao paciente, defesa de direitos e advocacy.

 

  • Luciana Holtz, psico-oncologista, presidente do instituto Oncoguia, apresentou dados coletados pela instituição sobre a jornada do paciente com câncer.

 

  • Um ponto de partida importante colocado é que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa para 2020/2021 é de 660 mil novos casos de câncer no Brasil. Falou-se ainda da previsão de uma “epidemia de câncer” em 2025. Buscando essa informação encontramos, também pelo INCA, que “a menos que sejam tomadas medidas urgentes para aumentar a conscientização sobre a doença ou desenvolver estratégias práticas para lidar com o câncer, a previsão para 2025 é de 6 milhões de mortes prematuras por ano”. Mortes prematuras são mortes que poderiam ser evitadas. Considerando também as definições abaixo fornecidas pelo site Telessaúde, o termo epidemia parece razoável.

 

  • O instituto Oncoguia faz pesquisa com pacientes de diferentes diagnósticos, porém, de modo geral, de acordo com Luciana, o que se encontra é um paciente desinformado, inseguro, com medo e muitas vezes, com diagnóstico tardio. E o que contribui para isso são tratamentos inacessíveis, profissionais pouco satisfeitos ou capacitados; qualidade de vida não priorizada e benefícios legais não garantidos.

 

  • Luciana apontou como possíveis caminhos de melhoria: informação de qualidade, transparência e agilidade, diagnóstico precoce e tratamentos acessíveis, execução de leis ou políticas públicas existentes (lei dos 30 dias, lei dos 60 dias, política de cuidados paliativos), avanço de projetos de lei (estatuto do paciente com câncer) e da notificação compulsória de casos de câncer (lei ainda não regulamentada), alinhamento científico, acesso à pesquisa clínica, investimento em profissionais, recursos multidisciplinares, investimento em infraestrutura, qualidade de vida como primordial, melhor cuidado à dor do paciente e garantia de benefícios legais não só na teoria.

 

  • São muitos desafios! Por isso é muito importante que estejamos atentos a esses aspectos, pois o sofrimento de um paciente em relação ao câncer também é influenciado por questões financeiras, sociais e de acesso ao tratamento. Como enfatizado pela Regina Liberato, políticas públicas de saúde é algo sobre o que devemos nos ocupar também enquanto psico-oncologistas.

 

  • Luciana trouxe a reflexão de que possamos caminhar para uma oncologia justa, efetiva e sustentável. Lembrando que os pacientes possuem projetos, planos, sonhos e esperanças e relatam que diante do câncer esperam tratamento rápido/eficaz. Se não puder ser curativo, que possa controlar a doença, sempre com qualidade de vida.

 

Impactos da pandemia na vida do paciente com câncer

 

  • Também fazendo referência a uma pesquisa do Instituto Oncoguia com os pacientes (com cerca de 1001 respostas, realizada em abril/maio e em julho), Luciana Holtz e Regina Liberato (psico-oncologista, membro do comitê de saúde emocional do Instituto Oncoguia) trouxeram alguns dados relevantes sobre a experiência dos pacientes diante da pandemia.

 

  • Os pacientes se consideraram grupo de risco, referiram que a pandemia teve impacto no tratamento, na maioria por decisão da instituição, a área emocional foi a mais impactada, seguida da área social e os sentimentos mais relatados foram medo e ansiedade. A maioria dos pacientes referiu formas de cuidado da saúde emocional (principalmente o cuidado com a espiritualidade), porém houveram respostas sobre não estarem cuidando ou não saberem o que fazer.

 

  • Algumas reflexões apontadas por Luciana e Regina:

 

  • É importante que as instituições comuniquem aos paciente os protocolos de biossegurança implantados de forma ativa, para que possam retornar ao tratamento com menos insegurança, algo que podemos incentivar e contribuir de alguma forma.

 

  • Os sentimentos relatados pelos pacientes são esperados, o medo causou um congelamento inicial, porém o momento é de transformá-lo em atitudes criativas. A ansiedade aponta para um olhar para o futuro, permeado por incertezas.

 

  • Instrumentos como roda de conversa podem ser uma forma eficaz de acolhimento e suporte para o paciente e família.

 

  • Os profissionais de saúde (incluindo psicólogos) também tem uma grande demanda de troca e escuta, oficinas podem ser uma opção de formação pessoal, não só capacitação de trabalho.

 

  • A pesquisa, mesmo que simples, mas realizada de forma ética, pode nos ajudar a conhecer a necessidade dos pacientes, compartilhar com todos que participam no seu cuidado e propor melhores intervenções que auxiliem sua qualidade de vida, além disso, divulgar e mostrar a seriedade do nosso trabalho.

 

  • Essa palestra deixou uma mensagem final valiosa: vamos colocar nossos projetos de pesquisa no papel e investir neles?

 

Referências:

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