O luto natural é o processo pelo qual o indivíduo compreende e tenta aceitar a perda do seu ente querido, se adaptando, com o tempo, com a condição de viver sem aquela pessoa querida. Naturalmente o enlutado sofre, sente tristeza, chora, sente saudades do ente querido, já que o luto é um processo natural e esperado quando há uma perda significativa e rompimento de um vínculo. Porém, com o passar do tempo, o enlutado tende a reorganizar a sua rotina, sente-se mais adaptado à realidade, aceitando a perda com mais tranquilidade, não experimenta mais o desespero pelo sofrimento, sendo comuns frases e pensamentos como: “vai ficar tudo bem”.
Quando é que o processo natural de luto se torna um luto complicado?
Um processo de luto complicado se apresenta quando a pessoa experimenta uma desorganização prolongada que a impede de retomar as suas atividades com certa qualidade; quando há uma extrema dificuldade em aceitar a perda; quando o enlutado apresenta reações diferentes daquelas consideradas “esperadas” (de acordo com as normas socioculturais de cada comunidade) ou quando estão ausentes.
Nestas circunstâncias, o luto permanece não resolvido ao longo do tempo, podendo perdurar por vários anos, e interfere diretamente no estado emocional da pessoa, impactando significativamente a sua vida e rotina. É caracterizado como uma tristeza profunda, duradoura, que além da diminuição dos contatos sociais e distúrbios psíquicos, pode gerar um impacto importante da manutenção da saúde global do enlutado.
Dessa forma, a questão não é não sentir a perda e sofrer por ela, mas é como ela é sentida e administrada com o tempo. O luto complicado seria a intensificação do luto até o ponto em que a pessoa se sente sobrecarregada e não transita por esse estado de luto, não apresenta melhora com o tempo. Podemos pensar que a principal diferença entre um luto saudável e um complicado seria a sua duração a intensidade.
O diagnóstico de luto complicado não é tarefa fácil, mas alguns fatores podem nos auxiliar a identificar que a pessoa está vivenciando este processo:
– foco excessivo na perda e lembranças da pessoa falecida;
– intenso desejo ou anseio de encontrar a pessoa;
– dificuldade para aceitar a morte;
– dificuldade para realizar coisas do cotidiano;
– estado de humor permanentemente alterado;
-comportamento antissocial;
– ideação suicida e comportamentos autodestrutivos;
-sentimento que a vida não tem qualquer sentido ou propósito.
Esta sintomatologia também pode ocorrer num processo de luto normal, no entanto, no luto complicado, estes sintomas não mostram sinais de evolução e/ou melhora ao longo do tempo. E, de acordo com a literatura, de 10% a 20% dos casos de luto não seguem o curso normal de acomodação da perda ou, ainda, afirmam que pais e cônjuges são as pessoas mais afetadas com o falecimento do familiar, concluindo que esses públicos seriam os mais propensos a desenvolver um luto prolongado e complicado.
Contudo, é importante ressaltar que o processo de luto se constitui como uma experiência individual, cada pessoa enfrenta e entende a morte de uma maneira muito particular, e o suporte de psicólogos e psiquiatras é fundamental para os casos de luto complicado.