O que fazer quando uma criança pede para visitar um ente querido na UTI

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Sabemos que diante deste pedido a primeira coisa que vem à mente dos adultos é: não! Isso seria muito traumático. Visto que a visita aproxima a criança da realidade do adoecimento e da morte.  Entretanto, não é o que a prática e os estudos nos mostram.

Algumas reflexões sobre a visita da criança a um ente querido na UTI

As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são centros destinados ao tratamento dos pacientes em estado grave, com doenças agudas ou complicações crônicas, que oferecem cuidados altamente complexos e controles estritos, o que faz com que este ambiente apresente regras rígidas com relação à visitas de familiares, entre eles, as crianças.

A visita de crianças aos familiares em estado crítico na UTI adulto é uma prática pouco recorrente no Brasil. Segundo a Lei Nº 8.069 (1990), que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências, considera-se criança a pessoa até doze anos de idade incompletos e muitas UTIs adulto utilizam-se desta idade para regulamentar a idade mínima para permitir a entrada da criança nestas unidades. No entanto, a prática revela que crianças de diferentes idades manifestam o desejo de visitar o ente querido em UTI e estudos apontam que esta visita, quando realizada de modo adequado, favorece emocionalmente o paciente, a criança e a família. É possível ainda, proteger a criança dos riscos de infecção, preocupação também recorrente.

Além disso, sabemos que a criança possui desejo de informações acerca do tratamento e prognóstico do familiar, bem como grande capacidade de observação, para o mundo físico e também para o mundo psicológico.

As crianças são sensíveis e percebem os fatos que os adultos ocultam. A possibilidade de falar alivia e ajuda a elaborar as perdas que o adoecimento traz para o contexto familiar (ausência do ente querido em seu ambiente, mudança de rotina etc). Dessa maneira, a visita ao familiar em UTI favorece o bem estar emocional da criança.

Considerando então a devida importância desse momento, como proceder diante do pedido da criança?

O primeiro passo é avaliar se esse é realmente o desejo da criança, pois a visita não pode ser uma imposição da família. É importante também que exista um diálogo com a criança sobre o adoecimento, respeitando sua idade e possibilidade de compreensão da situação, para que ela possa expressar seus desejos e sentimentos.

O segundo passo então é comunicar a equipe de saúde da instituição sobre o desejo da criança. Nestes casos, a família pode comunicar o psicólogo ou outro membro da equipe da UTI (enfermeiro, médico, assistente social), que irá informar sobre as regras da unidade. Como abordamos acima, muitas UTIs ainda não permitem a entrada da criança.

Caso a visita seja autorizada, caminhamos para o terceiro passo, que envolve a organização da visita pela equipe de saúde. Geralmente um horário é previamente agendado para que procedimentos não interfiram neste momento.

É comum em serviços que tenham um psicólogo que antes da visita seja realizado um atendimento com a criança, com intuito de identificar sua relação com paciente, compreensão sobre o adoecimento, internação e ambiente da UTI, além do desejo de realizar a visita. Esse ou outro profissional da equipe pode também acompanhar a visita, respeitando a privacidade da família, porém se mantendo por perto para esclarecer possíveis questionamentos e acolher os sentimentos vivenciados. Pode ser feito também um atendimento psicológico posterior, visando identificar as repercussões emocionais da visita para a criança.

Quando a visita ocorre de maneira adequada, promove para a criança a sensação de acolhimento de suas necessidades e inserção no contexto de adoecimento de seu familiar, o que poderá auxiliá-la no processo de elaboração das perdas que ele traz.

 

Fontes do artigo e mais informações:

Aberastury, A. (1984). A percepção da morte nas crianças. In. A. Aberastury. A percepção da morte na criança e outros escritos. (PP. 128-139). Porto Alegre: Artes médicas.

Borges, K., Genaro, L., & Monteiro, C. (2010). Visita de crianças em unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva, 22, 300-304.

Castro, E., Job, C. (2010). Câncer na mãe e o impacto psicológico no comportamento de seus filhos pequenos. Rev Interinstitucional Psicol, 3, 136-147.

Clare, M., & Clarke, R. (2000). Children visiting family and friends on adult intensive care units: the nurses perspective. J Adv Nurs, 31, 330-338.

Kovács M, Lima V. (2011) Morte na família: um estudo exploratório acerca da comunicação com a criança. Psicol Cienc Prof, 31, 390-405.

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