Muitos pesquisadores investigaram a relação entre o desenvolvimento do conceito de morte e o nível de desenvolvimento cognitivo da criança. De modo geral, os autores identificam três níveis de desenvolvimento do conceito de morte a partir dos diferentes períodos de desenvolvimento das crianças:
Nível 1 (característico de crianças a partir de 2 anos)
As crianças neste nível não estabelecem claramente a oposição entre animados e inanimados, ou seja, não tem a clara ideia do que está vivo ou não (nas brincadeiras, por exemplo, dão “vida” aos objetos); admitem vida na morte e não compreendem a morte como um processo definitivo e irreversível, não conseguindo entender que quando alguém morre, não voltará.
Por isso nessa fase é comum à criança questionar muitas vezes sobre a pessoa que morreu. Os adultos têm que estar preparados para responder essas questões quantas vezes forem necessárias. Ainda nessa fase, dos 2 aos 5 anos, existe um medo mais consciente de ser abandonada ou separada das figuras de apego principais, o que pode se manifestar através de comportamentos mais regressivos e alterações emocionais, como isolamento, agressividade. Dessa forma, é fundamental que os cuidadores estejam atentos a esses sintomas.
Nível 2 (característico de crianças a partir dos 5/6 anos)
As crianças neste nível começam a compreender o significado de morte, embora não ainda da mesma forma que um adulto. Progridem em sua capacidade para distinguir entre animados e inanimados e já fazem oposição entre vida e morte, não mais atribuindo vida e funcionamento biológico ao morto. Definem a morte a partir de suas percepções, portanto, não são capazes ainda de dar explicações biológicas, mas já compreendem a morte como uma algo irreversível e permanente, ainda que não universal a todos os seres humanos (a seus pais, irmãos e a eles mesmos).
Nível 3 (característico de crianças a partir dos 9/10 anos)
Neste nível as crianças estabelecem claramente a ampla distinção entre animados e inanimados, reconhecem a morte como extensiva a todos os seres animados e dão explicações biologicamente essenciais e de causalidade. Também neste nível começam a reconhecer a morte como parte da vida, como um processo que opera internamente e inerente a todos os seres, inclusive a ela mesma.
Devemos sempre lembrar, entretanto, que as crianças são diferentes umas das outras, reagindo à morte de modo distinto. A história de vida da criança, as perdas que já vivenciou e a abertura dos cuidadores a falar sobre o tema são aspectos que determinam o enfrentamento da criança frente a temática da morte.
Alterações de comportamento em vários contextos, especialmente o familiar e escolar (no rendimento, atenção, concentração, memória, etc.) podem revelar alguma dificuldade ou sofrimento. As alterações comportamentais e fisiológicas (sono, apetite, dores de barriga, dores de cabeça) são, muitas vezes, sinalizadores externos das manifestações emocionais (dor, sofrimento, ansiedade, depressão, medo) e cognitivas (preocupações, dúvidas, crenças disfuncionais) que as crianças vivenciam.