O luto deve ser compreendido como um processo natural e esperado diante do rompimento de vínculo um significativo, seja com uma pessoa amada, um objeto material especial, emprego, status, casa, país, parte do corpo, etc. Assim, ao lidar com a morte do paciente, com a impossibilidade de curar, com os inúmeros diagnósticos de câncer, com as freqüentes recaídas, o profissional acaba lidando também com a perda de um ideal de curar.
A vivência do processo de luto é importante para a saúde mental na medida em que proporciona reconstrução e adaptação às mudanças. Entretanto, o luto possui fatores complicadores e facilitadores de seu processo (confira mais série “entendendo o luto”).
Quando falamos do luto do profissional de saúde reconhecemos um fator complicador chamado de ambivalência. Perdas ambíguas são aquelas que se caracterizam pela falta de clareza com relação ao que foi perdido, sobre quem perdeu ou ainda, se houve perda ou não. Diante dessas incertezas os sujeitos não sabem como reagir, com frequência não expressam o que sentem e não recebem o apoio necessário.
Sabemos que o luto é também um fenômeno social, ou seja, existem regras normativas da sociedade para vivenciar o luto (você já ouviu falas como: “Maria nem parece que perdeu o José, nem chora” ou ainda “você ainda está sofrendo por isso?”).
O processo de luto do profissional de saúde ainda não é reconhecido e existe pouca ou nenhuma oportunidade de expressão pública para facilitar a expressão e elaboração desse luto, entretanto, já abordamos que o profissional vivencia sentimentos de pesar diante do rompimento de um vínculo significativo com um paciente ou mesmo diante da perda de uma identidade profissional (expectativa de curar o paciente) Sendo assim, o processo vivenciado é denominado como luto não reconhecido na literatura.