Pensemos nas seguintes cenas:
“Sr. G., 40 anos, por diversas vezes foi ao médico devido sintomas de dor no peito e tosse frequente, porém não teve um diagnóstico. Até que em uma nova consulta, após realizar exames, foi encaminhado para o oncologista, que o informa que precisará iniciar o tratamento para o câncer de pulmão. Sr. G. olha aflito para o médico e verbaliza: Dr. O senhor não pode me deixar morrer, tenho uma filha de 6 anos”.
“Sra. M. , 50 anos, após internação em hospital oncológico, onde faz tratamento contra o câncer de mama há 5 meses, realiza exames de reestadiamento. Sra. M. questiona o oncologista sobre seu quadro de saúde e durante reunião familiar o médico informa: – Sra. M., o tratamento que estávamos realizando não está tendo o efeito que esperávamos, a doença da senhora evoluiu e não temos mais o que fazer, porém, existem cuidados (referindo-se a sua transferência para os cuidados paliativos exclusivos). Sra M. questiona: Eu vou morrer? E permanece em silêncio”.
Para iniciarmos uma reflexão sobre comunicação de más notícias em oncologia é necessário o convite para nos aproximarmos empaticamente de Sr. G. e da Sra. M., considerando-os sujeitos que possuem uma história de vida, sonhos, famílias, rotinas, crenças filosóficas e espirituais e entre outras características que os fazem singular. Porém, não podemos nos esquecer de que do outro lado, existe o profissional de saúde, naquele momento porta-voz da má notícia e que também possui sua história, sua forma de compreender o seu trabalho, sua crenças pessoais etc. A forma com que o profissional de saúde entende o seu papel neste momento, reflete em seu modo de conduzir a situação, o que por sua vez, repercutirá diretamente na compreensão e enfrentamento do paciente e de seus familiares, podendo trazer repercussões positivas ou negativas para a vida dessas pessoas.
Estas são cenas breves, mas que nos levam a pensar na amplitude desse tema. Sabemos que diante do câncer existe um universo simbólico permeado por conteúdos negativos e que más notícias com frequência são transmitidas, o que desperta diferentes questionamentos, a saber: quando dar a má notícia? Como dizer? É direito do paciente e de seus familiares recebê-la? Como cuidar para que seja feito da melhor forma? A informação pode traumatizar o paciente ou ele ficar deprimido? Como lidar com as reações inesperadas?
Trazer à tona essas questões é o primeiro passo que o profissional de saúde se instrumentalize na área de comunicação de más notícias e possa lidar com seus desafios da maneira mais tranquila possível.