A comunicação de más notícias refere-se à transmissão de uma informação que afete de forma radical e definitiva a perspectiva de futuro de quem a recebe. Comunicação na área da saúde, por sua vez, é associada à ideia de compartilhamento de informações entre todos os envolvidos (equipe de saúde- paciente- família) ao longo de todo o processo de cuidados com o paciente.
Estudos revelam que oncologistas consideram a comunicação do diagnóstico e do prognóstico de câncer como uma tarefa difícil em sua atuação e por outro lado, pacientes e familiares avaliam a comunicação adequada como fator imprescindível para o seu bem estar durante o tratamento.
Alguns fatores apontados como complicadores do processo de comunicação são: a ausência de investimentos para o desenvolvimento das habilidades relacionais e de comunicação nos currículos da graduação médica; as representações sociais e o simbolismo da doença oncológica; a presença de fantasias relacionadas ao conhecimento do diagnóstico e as dificuldades para lidar com a finitude da vida. Sabemos que na sociedade atual a morte é vivenciada como tabu e tema interdito.
Os principais conflitos éticos citados pelos oncologistas são: o questionamento se o ato de revelar a verdade diagnóstica constitui ação beneficente ou não para o paciente. Existe o imaginário de que o conhecimento da doença pode desencadear a piora do estado físico e emocional do paciente. Observamos que esta concepção também permeia o imaginário dos familiares, que muitas vezes influenciam o processo, impedindo a comunicação do profissional com o paciente.
Assim, transmitir más notícias é fonte de estresse para profissionais de saúde, que temem não ter recursos para gerir a situação ou para lidar com o impacto psicológico que a mesma pode ter diante do paciente e sua família. É importante considerar que o profissional pode adotar estratégias instintivas para garantir sua proteção psíquica, como evitar envolvimento ou silenciamento, contudo, faz-se necessário um olhar crítico para tais posturas, que impactam ativamente na relação profissional-paciente-familiares, podendo gerar dificuldades de comunicação, assim como bem-estar de todos os envolvidos.
Além disso, nos cabe refletir que para a medicina o corpo é considerado um organismo físico, constituído por órgãos, sistemas, ou seja, um corpo puramente biológico, que pode adoecer. Na sua formação, o médico aprende a tratar a doença, lidar com medicamentos e exames, porém o olhar para o doente de maneira integral é, muitas vezes, negligenciado.
É imprescindível considerar que por trás daquele diagnóstico de neoplasia maligna da mama, pode estar a sra. M., mãe de 3 filhos, avó de 2 netos, professora, espírita, com sonho de terminar sua casa própria e entre outros inúmeros aspectos individuais que compõem cada sujeito. Comunicar más notícias é lidar diretamente com o doente e com a singularidade das reações despertadas por uma informação que afeta sua perspectiva de futuro.
Outro aspecto relacionado ao desafio do profissional de saúde em comunicar más notícias é o fato de que muitas vezes ela é vivenciada como um fracasso, uma vez que a cura é internalizada como o ideal a ser alcançado. De maneira resumida, comunicar más notícias pode despertar diferentes sentimentos no profissional de saúde:
- Medo das reações e questionamentos dos pacientes e familiares;
- Medo de expressar seus sentimentos e se envolver;
- Medo de ser colocado como responsável pela má notícia;
- Medo do fracasso e impotência;
- Entrar em contato com a própria finitude.
Diante disso, cabe sempre questionar: silenciar uma notícia está em função de proteger o paciente ou o profissional?