Entendemos que a criança pode brincar de diferentes maneiras, por exemplo, jogar bola, tocar instrumentos, desenhar, assistir desenhos, ler histórias, dançar, entre outras.
Através das brincadeiras a criança satisfaz, em grande parte, seus interesses, desejos, necessidades, expressa a maneira como se sente, aprende construindo e reconstruindo seu universo. Em linhas gerais, através da brincadeira a criança expressa e compreende o mundo que a cerca.
Segundo Winnicott, pediatra e psicanalista inglês:
“É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem da sua liberdade de criação “
“O brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde(…)”
Assim, o brincar é importante para o desenvolvimento de todas as crianças.
E quando a criança adoece?
Visitas regulares ao hospital, restrições do convívio social e dos espaços frequentados, ausências escolares e mudanças na dinâmica familiar, além disso, novos horários, novas rotinas e convivência com profissionais de saúde, exposição a estímulos dolorosos, o que até então não fazia parte de seu dia-dia.
Tais vivências podem mobilizar sofrimento emocional e físico, que podem ser expressados através do medo de médicos, choro, agressividade, dependência, ansiedade, depressão, distúrbio do sono, evitação dos procedimentos médicos e outras formas.
Diante deste cenário, surge a preocupação dos pais e profissionais da saúde em reduzir os efeitos negativos sobre a criança. O diálogo é um grande aliado nesta tarefa. Ao fornecermos informações as crianças se sentem menos vulneráveis às experiências negativas, a falta de informações relacionadas à situação hospitalar pode tomar-se potencial estressor. Quando explicamos para a criança o que vai acontecer, encorajamos as expressões emocionais, estabelecemos confiança na relação criança-pais-equipe de saúde. Porém, a informação deve ser adequada à idade da criança. Mais informações na série Falando com a criança sobre o câncer: https://enfrente.com.br/?page_id=631
E como o brincar pode ajudar a criança em tratamento oncológico?
Estudiosos nos mostram que a oportunidade de brincar no hospital tem efeitos positivos como recrear, amenizar o sofrimento hospitalar, favorecer a comunicação e a expressão dos sentimentos das crianças, entre outros. Não é incomum, a criança pedir para manipular/brincar com materiais hospitalares (seringas, luvas, gases), dessa maneira ela expressa seus temores e ansiedades frente a sua vivência e explora o universo do tratamento.
Assim, o brincar é uma estratégia utilizada por crianças para enfrentar condições estressantes, como o adoecimento, tratamento e hospitalizações. Por isso os serviços de saúde e os pais podem ofertar brinquedos e espaços lúdicos para as crianças em tratamento. Lembrando que os brinquedos devem ser adaptados para as diferentes idades:
Segundo estudiosos algumas tendências são observadas:
Na faixa etária entre 0-2 anos: geralmente utilizam bichinhos emborrachados e chocalhos, podendo trabalhar a estimulação tátil, visual e auditiva. Crianças pequenas são favorecidas por brincadeiras simples e imitativas, necessitando receber tal estimulação.
Crianças com idade entre 3-5 anos: nota-se maior interesse por materiais de desenho e quebra-cabeças.
Entre 6-8 anos: as crianças também optam por materiais relacionados ao desenho.
Entre 9-12 anos: a criança compreende regras e instruções relativas ao jogo. Nesta fase as crianças progridem para jogos com regras, competitivos e cooperativos.
Atividades como desenhar, jogar, modelar, conversar e recursos como carrinho, massinha e quebra-cabeças são utilizados em várias fases de desenvolvimento da criança.
Os autores ressaltam a importância de os pais participarem do processo junto à criança, isso favorece a comunicação e o vínculo no momento do tratamento.
Importante diferenciar duas formas do brincar: como instrumento de recreação e o brincar como intervenção e técnica profissional.
Ao brincar no hospital, a criança altera o ambiente em que se encontra, aproximando-o de sua realidade cotidiana, assim, a atividade livre e desinteressada tem um efeito terapêutico, promovendo bem estar para a criança.
Por outro lado, profissionais da saúde (psicólogos, educadores, enfermeiros, médicos, nutricionistas, entre outros) podem utilizar o brincar como técnica junto a criança em tratamento oncológico. Por exemplo para ajudá-la na compreensão e na adaptação mais adequada a um procedimento ou na elaboração de seu processo de adoecimento.
Fontes dos artigos e mais informações:
- Angerami, V. A. (1994). O psicólogo no hospital. In: V. A. Angerami, Psicologia hospitalar. São Paulo: [s.n.] .
- Aragão R.M.& Azevedo M.R.Z.S. (2001) O Brincar no Hospital: Análise de Estratégias e Recursos Lúdicos Utilizados com Crianças. Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 18, n. 3, pp. 33-42.
- Lindquist, I. (1993). A Criança no hospital: terapia pelo brinquedo (R. Z. Altman, Trad.). São Paulo: Scritta.
- Lindquist, I. (1996). Brincar no hospital. Em A. Friedmann, C. Aflalo, C. M. R. J. de Andrade & R. Z. Altman (Orgs.), O Direito de Brincar (pp. 127-137). São Paulo: Scritta.
- Motta A.B. & Enumo S.R.F.(2004) Brincar no hospital: estratégia de enfrentamento da hospitalização infantil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 1, p. 19-28.
- Winnicott D.W.(1968). O brincar. Uma exposição teórica. In O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.
- Winnicott D.W. (1971). O brincar. A atividade criativa e a busca do eu (self). In O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.