A notícia da origem, progressão ou recidiva de uma doença grave, como o câncer, pode desencadear reações emocionais agudas, representar um grande impacto emocional e vir acompanhada de sentimentos de descrença, entorpecimento e/ou negação acerca da real condição de saúde. A forma como esses sentimentos podem emergir está diretamente relacionada à organizações psíquicas primárias do indivíduo, o significado da doença para ele, crenças culturais e experiências com a situação de adoecimento previamente vividas (próprias ou de familiares e amigos).
Antecedentes psicopatológicos ou psiquiátricos pessoais ou familiares também são fatores importantes que podem contribuir para dificuldades de enfrentamento do sujeito frente à situações altamente estressantes, como é a notícia de um diagnóstico oncológico.
A despeito da influência de fatores prévios, é comum que grande parte dos pacientes oncológicos apresente sentimentos de tristeza, perda, desafeto, isolamento e desamparo como consequência dos prejuízos no senso de identidade e valores pessoais causados pelo diagnóstico. Contudo, o processo de enfrentamento do adoecimento pode ser facilitado através do suporte psicológico.
O profissional deve atuar com o paciente, independentemente da abordagem utilizada em sua prática, visando promover reflexão acerca de emoções, ideias, medos e preocupações envolvidas em todo o processo; legitimar e validar sentimentos; motivar a discussão e trabalhar temáticas relacionados a questões existenciais, sociais, familiares e espirituais; acolher angústias e tristezas resultantes de mudanças e rupturas relacionadas ao adoecimento, sintomas e necessidade de reabilitação, além de poder trabalhar questões acerca da finitude e morte.
No contato inicial com o paciente, o estabelecimento de uma relação terapêutica e um ambiente em que o paciente se sinta acolhido para falar abertamente sobre ele e seus sentimentos, abre caminho para o processo terapêutico psicológico e oportunidades de reflexão. Reunir informações sobre o paciente, sua história de vida, ambientes sociais, familiar e profissional, cultura e crenças, trajetória do adoecimento e sobre a natureza de suas preocupações, contribuem para o estabelecimento de um vínculo, além de serem de suma importância para o conhecimento do paciente como um todo, considerando todas as esferas da vida que o englobam.
É possível ainda que nesse momento inicial o paciente apresente dúvidas acerca do acompanhamento psicológico, assim como tenha crenças culturais relacionadas à ele. Há aqueles que ainda acreditam que a psicoterapia é uma prática destinada ao tratamento de doenças mentais graves. O psicólogo deve estar atento a elas, acolher, esclarecer e desmistificar os fundamentos, processos e objetivos da psicoterapia. Nesse momento, também, são feitos os combinados e orientações práticas, como frequência dos atendimentos, sigilo e da possibilidade de atendimentos em conjunto com os familiares envolvidos, assim como de atendimentos de suporte familiar individuais.