A perda de um filho é uma perda sem nome, que nos desafia e nos deixa sem palavras para nomeá-la. Quem perde o pai ou mãe fica órfão. Quem perde o esposo (a) fica viúva (o). E quem perde um filho? A morte de um filho consiste numa ruptura do ciclo considerado natural da vida, onde os pais morrem primeiro do que seus filhos. Não há representação para essa perda, é algo que nunca imaginamos.
O luto pela perda de um filho é considerado, pela literatura, como um dos fatores traumáticos de risco para o desenvolvimento do luto complicado e de transtorno(s) psiquiátrico(s).
Isto se deve ao, geralmente, intenso vínculo estabelecido entre pais e filhos, onde os pais depositam importante investimento afetivo. Outros fatores que tornam este luto mais difícil de ser elaborado são pela possibilidade do surgimento de sentimento de culpa do pai ou mãe por ter sobrevivido ao filho ou a impotência por não ter podido impedir sua morte.
Estudiosos apontam que no luto de pais, com o passar do tempo, a perda não se acomoda, o que gera conflito diante de uma imposição da sociedade de “superação” da perda. Isto tende a inibir os pais que não conseguem responder “adequadamente”. A experiência clínica mostra que o passar do tempo pode ser um fator que não atenua a dor dos pais, mas pode torná-la mais aguda.
Não existe uma “superação”, um final previsível para o luto dos pais pelos seus filhos, mas sim um investimento e reposicionamento do amor, de forma que os pais possam falar do filho falecido e realizar o luto de acordo com seu próprio tempo.
O acompanhamento psicológico, embora não obrigatório em todos os casos, pode auxiliar nesse processo, por oferecer um ambiente acolhedor e de continência, tão necessários nesse momento.
Projeto Pais em Luto
O Projeto Pais em Luto tem como objetivo ser uma fonte de apoio para pais enlutados com carência socioeconômica, para que possam encontrar auxílio gratuito para lidar com a dor e o sentimentos que acompanham a perda de um filho.
Entre as formas de apoio estão acompanhamentos psicológicos, grupos de pais enlutados, tratamentos psiquiátricos e aconselhamento espiritual. O melhor encaminhamento é estabelecido em conjunto com os pais após um primeiro atendimento, onde um profissional qualificado realiza um diagnóstico de suas necessidades.
Para participar basta enviar uma mensagem em: http://paisemluto.org.br/
Fontes do artigo e mais informações
- Agnese, A. M. D., Batista, M. R., Oliveira, V. G., Rose, A. T. & Lescano, N. (2012). Perda sem nome – como superar a ausência de pessoas queridas. Organização Pan-Americana da Saúde.
- Casellato, G. (2002). Luto pela perda de um filho: a recuperação possível diante do pior tipo de perda. In: M.H.P. Franco (Org.). Uma jornada sobre o luto: a morte sob diferentes olhares (pp.11-21). Campinas: Livro Pleno.
- Kovács, M. J. (1992). Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo.
- Oliveira, J. B. A. & Lopes, R. G. C. (2008). O processo de luto no idoso pela morte de cônjuge e filho. Psicologia em estudo (Maringá), 13 (2), 217-221.
- Parkes, C. M. (1998). Bereavement in adult life. BMJ, 3 (16), 856-859.